A capacidade de se encantar ... escrito por: Martha Medeiros
Colaboração do Ten. Cel. Euro - Rio de Janeiro RJ
22/08/2012

Muita gente diz que adora viajar,
mas depois que volta só recorda das coisas que deram errado.
Sendo viajar um convite ao imprevisto,
lógico que algumas coisas darão errado, faz parte do pacote.
Desde coisas ingratas, como a perda de uma conexão
ou ter a mala extraviada, até xaropices menos relevantes,
como ficar na última fila da plateia do musical
ou um garçom mal-humorado não entender o seu pedido.
Ainda assim, abra bem os olhos e veja onde você está:
em Fernando de Noronha, em Paris, em Honolulu, em Mykonos. Poderia ser pior, não poderia?

Outro dia uma amiga que já deu a volta ao mundo uma dezena de vezes comentou que lamentava
ver alguns viajantes tão blasés diante de situações
que costumam maravilhar a todos.
São os que fazem um safári na Namíbia e estão mais preocupados com os mosquitos do que em admirar a paisagem,
ou que estão à beira do mar numa praia da Tailândia
e não se conformam de ter esquecido no hotel
a nécessaire com os medicamentos,
ou que não saboreiam um prato espetacular porque estão ocupados
calculando quanto terão que deixar de gorjeta.
Não saboreiam nada, aliás.
Estão diante das geleiras da Patagônia
e não refletem sobre a imponência da natureza,
estão sentados num café em Milão
e não percebem a elegância dos transeuntes,
entram numa gôndola em Veneza e passam o trajeto brigando contra a máquina fotográfica que emperrou,
visitam Ouro Preto e não se emocionam com o tesouro
da arquitetura barroca – mas se queixam das ladeiras, claro.

Vão à Provence e torcem o nariz para o cheiro dos queijos, olham para o céu estrelado do Atacama
sofrendo com o excesso de silêncio,
vão para Trancoso e reclamam de não ter onde usar salto alto,
vão para a Índia sem informação alguma
e aí estranham o gosto esquisito daquele hamburger:
ué, não é carne de vaca, bem?
Aliás, viajar sem estar minimamente informado
sobre o destino escolhido é bem parecido com não ir.
Estão assistindo a um show de música no Central Park,
mas não tiram o olho do Ipad.
Vão ao Rio, mas têm medo de ir à Lapa.
Estão em Buenos Aires, mas nem pensar
em prestigiar o tango – “programa de velho!”
São os que olham tudo de cima, julgando, depreciando,
como se o fato de se entregar ao local visitado
fosse uma espécie de servilismo
– típico daqueles que têm vergonha de serem turistas.

É muito bacana passar um longo tempo numa cidade estrangeira e adquirir hábitos comuns aos nativos
para se sentir mais próximo da cultura local,
mas quem pode fazer essas imersões com frequência?
Na maior parte das vezes, somos turistas mesmo:
estamos com um pé lá e outro cá.
Então, estando lá, que nos rendamos ao inesperado,
ao sublime, ao belo.
Nada adianta levar o corpo pra passear
se a alma não sai de casa.
Martha Medeiros
Fonte: http://wp.clicrbs.com.br/viajandocomarte/2012/04/22/a-capacidade-de-se-encantar-por-martha-medeiros/

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